Across my Universe

quarta-feira, setembro 24, 2003

Mais um textinho da fase wireless...

19.09.03

Acabei de ler "Cem anos de Solidão". Preciso urgentemente me jogar aos pés de Gabo e me oferecer sua escrava, pois só a servidão completa será agradecimento suficiente por me propiciar o júbilo de, finda a leitura, ficar jogada na cama, o rosto estatelado num sorrido de quem acabou de fazer vocês-sabem-o-quê...


domingo, setembro 21, 2003

16.09.03

Finalmente mudei. Pra três ruas depois da minha, mas a sensação é que fui muito mais longe.
Porque estou me sentindo livre de "toneladas de grilos e de medos", da claustrofobia, da impressão
de que não tinha mais pra onde crescer ali dentro. O quarto novo, com seu janelão e sua vista para a rua e para
as pessoas, os passarinhos, os carros - para a vida, enfim - me deu uma injeção de ânimo na veia.

Fui muito feliz no antigo apartamento, e trago de lá lembranças fantásticas. Mas agora é hora de amealhar novas
recordações, e de ser muito feliz aqui. Que venha o futuro.

Pra quem não sabe, eu me mudei de apartamento há pouco mais de uma semana. O que significa dizer que ainda estou sobrevivendo em meio a um emaranhado de caixas, e que minha vida só estará se ajeitando aos pouquinhos. Hoje, por exemplo, foi o dia de reconquistar a internê.

Nesse meio-tempo, no entando, minha cabeça não parou de borbulhar. Andou funcionando como sempre, e talvez melhor ainda. E eu tive a oportunidade de pensar em várias das minhas realidades, e cheguei a outras várias conclusões sobre minha vida. Mas isso é assunto pra mais tarde.

O fato é que, nesse ínterim (adoro quando eu falo difícil), produzi alguns textinhos rabiscados num caderno mesmo, pra não perder o frescor da idéia anunciada. Vou jogando eles aqui, não na ordem cronológica, mas numa outra que me apraz mais: a da sensação de que eles devem ser mostrados, de que estarão conectados por uma cronologia advinda da lógica, if you will.

ps: Eu mudo os textos à medida que posso e que tenho vontade. Vocês podem até não gostar do que a tela está mostrando, mas ela apenas reflete meu estado de espírito ou meu estado de coisas. Não posto compulsoriamente, até porque isso aqui não é um emprego, nem um site de notícias atualizadas segundo a segundo. Portanto, vez por outra vocês terão que aceitar o fato de que um certo texto está encabeçando os posts há mais tempo do que gostariam. E ponto final.

segunda-feira, setembro 01, 2003

Para quem quer que ainda venha aqui procurar por novidades:

BALADA DO ENTERRADO VIVO


Na mais medonha das trevas
Acabei de despertar
Soterrado sob um túmulo.
De nada chego a lembrar
Sinto meu corpo pesar
Como se fosse de chumbo.
Não posso me levantar
Debalde tentei clamar
Aos habitantes do mundo.
Tenho um minuto de vida
Em breve estará perdida
Quando eu quiser respirar.
Meu caixão me prende os braços.
Enorme, a tampa fechada
Roça-me quase a cabeça.
Se ao menos a escuridão
Não estivesse tão espessa!
Se eu conseguisse fincar
Os joelhos nessa tampa
E os sete palmos de terra
Do fundo à campa rasgar!
Se um som eu chegasse a ouvir
No oco deste caixão
Que não fosse esse soturno
Bater do meu coração!
Se eu conseguisse esticar
Os braços num repelão
Inda rasgassem-me a carne
Os ossos que restarão!
Se eu pudesse me virar
As omoplatas romper
Na fúria de uma evasão
Ou se eu pudesse sorrir
Ou de ódio me estrangular
E de outra morte morrer!
Mas só me resta esperar
Suster a respiração
Sentindo o sangue subir-me
Como a lava de um vulcão
Enquanto a terra me esmaga
O caixão me oprime os membros
A gravata me asfixia
E um lenço me cerra os dentes!
Não há como me mover
E este lenço desatar
Não há como desmanchar
O laço que os pés me prende!
Bate, bate, mão aflita
No fundo deste caixão
Marca a angústia dos segundos
Que sem ar se extinguirão!
Lutai, pés espavoridos
Presos num nó de cordão
Que acima, os homens passando
Não ouvem vossa aflição!
Raspa, cara enlouquecida
Contra a lenha da prisão
Pesando sobre teus olhos
Há sete palmos de chão!
Corre mente desvairada
Sem consolo e sem perdão
Que nem a prece te ocorre
À louca imaginação!
Busca o ar que se te finda
Na caverna do pulmão
O pouco que tens ainda
Te há de erguer na convulsão
Que romperá teu sepulcro
E os sete palmos de chão:
Não te restassem por cima
Setecentos de amplidão!


Vinícius de Morais


Reconfortante, não..? :P