Já cheguei a conclusão irreversível de que tem coisas que só acontecem comigo.
Na sexta-feira à noite, por exemplo, fui atacada pelo meu periquito.
E o que mais me incomoda é que eu fui atacada mesmo agindo com a melhor das intenções. O bichinho estava sem comida, ao que penso: "Pobrezinho. Um passarinho solitário, cuja companheira morreu há tanto tempo, e ainda por cima com fome. Isso não é certo". E me engajei na missão de repor a ração.
Infelizmente, eu sou uma pessoa preguiçosa. Então, ao invés de tirar a gaiola do lugar, apoiá-la na máquina de lavar, alimentar o periquito e pendurar a casinha novamente, eu simplesmente subi numa cadeira e meti a mão para tirar o comedouro.
Aparentemente, essa operação tantas vezes repetidas ao longo da vida do periquito, desta feita teve uma reação inesperada. E ele se debateu desesperado - o que, somado ao fato de que a parte de baixo da gaiola estava solta, teve um resultado... bem, desastroso.
Acompanhem agora a seqüência de imagens cinematográficas: a parte de baixo da gaiola cai. O periquito cai. Eu seguro o fundo da gaiola, mas o periquito voa para longe - ou melhor, pro chão. Grande barulho. Nessa hora, entro em desespero - além do passarinho, que a esta altura estava caminhando nervoso de um lado para outro, tenho um gato e um cachorro que são invariavelmente atraídos por qualquer confusão. "Meu Deus", pensei, "vai ser uma carnificina animal".
Gritei para minha mãe fechar a porta, evitando assim uma edição doméstica daquilo que a gente vê nos dosumentários do Discovery Channel. Ao mesmo tempo, tentei segurar o periquito para colocá-lo de volta na gaiola - e foi aí que tudo aconteceu.
Fatigado, estressado, amedrontado, ele resolveu descontar em meu dedão toda angústia de seu ser. Ou seja, me mordeu até sangrar. Não pude deixar de lembrar da vez em que fui atacada pelo meu hamster.
Não riam, isso aconteceu mesmo.
Quando finalmente consegui restabalecer a ordem e salvar o bicudo - ainda que ele não merecesse - e olhei em volta, tive a visão desoladora que sucede os grandes desastres: penas, muitas penas. Casca de sementes. Tudo isso misturado em pipi de gato e cachorro. E eu tive que limpar.
Pois é. Numa sexta-feira à noite. Programão.
O pior é que sei que se eu tentasse vender essa história para algum humorístico iam me falar que é inverossímil demais...