Across my Universe

domingo, julho 17, 2005

Diana,

o tempo realmente passou. O meu coração me diz que foi ontem, mas o calendário não deixa a esclerose vencer e confirma que já se passaram 17 anos desde que eu te vi e você me viu e nós decidimos ser amigas.

Os recreios do São José com certeza se tornaram mais animados quando corríamos no pátio, na nossa imitação pobre do Bolinha. Aliás, qual era a raça dele, hein? Confesso que naquela idade, sendo criança de cidade grande, passarinho era passarinho. Isso de conhecer raça era sofisticado demais para mim, e legal mesmo era ouví-lo cantar.

Os carnavais da adolescência com certeza se tornaram mais inesquecíveis quando íamos para Praia Seca e dançávamos ao som do axé no Fandango Gaúcho. Eu sei que a escolha da trilha sonora não era a mais adequada, e que o local não tinha cara de carnaval, mas quem ligava? O importante era poder curtir a amizade com aquela liberdade de cidade pequena do alto dos 15 anos.

Só que aí o tempo passou e a vida, essa cretina, tratou de nos levar para faculdades, profissões, realidades e até países diferentes. Por isso, agradeço a nossa sorte de ter um carinho mútuo que permaneceu inalterado.

Ontem, no seu casamento, tive a oportunidade de te abraçar muito e te desejar muitas felicidades. Mas trabalho melhor a emoção no texto, e é por isso que me senti na obrigação de te escrever essa carta.

Como você bem sabe, minha residência oficial agora é São Paulo. Mas o que você não sabe é que deixei de ir a uma aula bastante importante para ir ao Rio - e por isso recebi muitos olhares de desaprovação de colegas que perguntavam: "Mas como você vai perder uma palestra dessas?"

E para todos eles minha resposta foi a mesma: estabelecida a hierarquia das prioridades, meus amigos vêm muito antes de qualquer seminário expositivo.

Pois quando eu desci do carro e vi aquele dia lindo, aquele lugar encantador, que mais pareciam saídos de uma pintura, fui invadida por uma alegria que reafirmou minha certeza de que tinha tomado uma das decisões mais acertadas da vida. E te ver vestida de noiva, entrando naquela Igreja de tão delicada, me fez revisitar memórias muito queridas e não teve jeito: quase borrei a maquiagem várias vezes.

Em pé lá no finzinho da capela, tive a real dimensão do meu carinho por você. Um sentimento de amizade tão forte que fico até meio perdida, sem saber como exatamente traduzir isso em palavras para explicá-lo.

Mas acho que vou ter que me conformar com aquilo que a mente consegue normatizar para não deixar de reafirmar o quanto eu espero que você e o Are estejam sempre com aquele sorriso de plenitude que esbanjavam no altar; que a felicidade de vocês se multiplique a cada dia, numa espiral de luz e risadas e cumplicidade e harmonia e alegria; que a Noruega viva uma eterna onda de calor pelo amor de vocês.

É, acho que deu pra você entender. =)

Da amiga que te adora,

Louise